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Editorial | Ano 2020: um novo paradigma para a terapia da fala

  

Joana Marta Teixeira, Nicole Agrela e David Nascimento 

 

A pandemia de Covid-19 veio transformar o ano 2020 em um dos mais atípicos e desafiantes para toda a população mundial. Esta doença, provocada pela infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2 (Direção Geral da Saúde, 2020), apresenta um elevado risco de contágio e risco de mortalidade, tendo implicado inúmeras mudanças na vida diária dos indivíduos em todas partes do mundo. As características desta pandemia exigiram a adaptação e reinvenção da prática de muitos profissionais de saúde, de forma a garantir a melhor qualidade dos serviços prestados e assegurar paralelamente a biossegurança do utente e do próprio profissional. A investigação científica foi igualmente impactada, condicionando alguns procedimentos que implicam proximidade física entre indivíduos. A te-rapia da fala não foi a exceção, enfrentando desde o final do primeiro trimestre deste ano diversos desafios face a esta problemática.

A limitação do contacto físico recomendado pela Organização Mundial da Saúde (2020) provocou a diminuição drástica do atendi-mento presencial por parte dos Terapeutas da Fala (TFs), levando a recorrer ao apoio à distância. A teleprática foi um dos recursos com um exponencial crescimento na prática clínica desta classe profissional. No ano civil transato este recurso era pouco implementado pelos TFs, nomeadamente em Portugal. Conduziu à recriação de novas dinâmicas terapêuticas e à adaptação de recursos. Teve como mais-valias assegurar a continuidade do acompanhamento e ser um veículo de comunicação reforçado com familiares e cuidadores. Permitiu ainda contornar barreiras geográficas, possibilitando a atuação em diversas regiões nacionais e internacionais.

A evidência científica da teleprática em terapia da fala ainda permanece reduzida, apesar de ser fortemente crescente. Até à data, a maioria dos procedimentos clínicos com sustentação científica robusta era realizada na modalidade de atendimento presencial. Um exemplo que nos permite ilustrar esta realidade é o facto dos instrumentos de avaliação aplicados na prática diária do Terapeuta da Fala (TF) não se encontrarem atualmente validados e adaptados para a implementação à distância.

Alguns TFs mantiveram a modalidade de atendimento presencial, inclusive na linha da frente do combate à pandemia de Covid-19, em unidades de cuidados intensivos. Com o intuito de limitar a propagação do vírus, vários procedimentos clínicos foram adaptados. A Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala elaborou um documento de boas práticas para Terapeutas da Fala na era Covid-19 (2020), salientando a importância de seguir as normas e orientações das autoridades de saúde portuguesas, nomeadamente da Direção Geral da Saúde. A recomendação do uso de material de proteção, assim como a manutenção do distanciamento social em contexto terapêutico, são exemplos das considerações emitidas por estas entidades. Sabe-se que, a terapia da fala é uma profissão que trabalha na especificidade das competências comunicativas e funções estomatognáticas. Neste sentido, foi frequente o confronto com limitações na avaliação e intervenção nestes novos moldes, tanto para o atendimento presencial como à distância. Estas adaptações têm por vezes implicado um prejuízo direto sobre o sucesso terapêutico e bem-estar do profissional e utentes. Urge por isso a necessidade de desenvolver alternativas aos procedimentos de avaliação e intervenção tradicionais, que cumpram os requisitos necessários a uma prática clínica.

Estas problemáticas salientam assim a necessidade urgente de produzir e divulgar investigação científica nesta área, de forma a assegurar um atendimento de qualidade à luz da evidência científica perante esta nova realidade. 

 
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